Autor(a): José Augusto Fontes
Editora: Editora Scortecci
Páginas: 92
Ano de publicação: 2023
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Poesia verde, cheia de sentimento, com versões que transbordam e abordam desde o mais simples ao mais misterioso do ser e do amor, da ecologia e da preocupação social, da flor e da dor. Sensibilidade marcante e poética envolvente, com passeios pelo íntimo inesgotável e pelo exterior infinito, beirando matas, sertões, encantos, paixões e preocupações sociais. Amor verdinho e versões palpitantes. Poemas desenhando belas e cativantes sensações.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Versos verdes e versões, publicado pela editora Scortecci. O livro é de autoria de José Augusto Fontes e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Poucos livros de poesia me cativaram tanto igual "Versos verdes e versões". Escrito por José Augusto Fontes após um momento crucial de sua vida, é impressionante ler esse conjunto de poemas e notar quão forte e devastador é o poder das palavras.
Digo isso porque no prefácio, o jornalista Francisco Dandão já diz que grande parte desse livro foi escrito após a experiência de quase morte do autor por conta da COVID-19. E esse talvez seja o fator que mais altere o modo de escrita de José nessa nova obra (além desse trabalho, o poeta já publicou outros títulos como Páginas da Amazônia — Proseando na Floresta e Sementes da Poesia na Floresta).
[...]Desenhei. Morri e renasci, a janela florida se abriuViajei então num céu de anilFoi quando pisei na terra de partidaAtrás deixei a dor anestesiada, cortante e vilEquilibrei na corda e levantei do vazio instanteSempre viverem um suposto arriscado que me seduzGritarei calado. Fui ressuscitado. Nasci e morri em abril.
Dando foque para tudo aquilo que o período pandêmico tornou claro, a forma como José relata suas experiências pessoais e calamidades sociais que nós vimos nos jornais e ao nosso redor durante esse período tão complicado é, no mínimo, brilhante. Pois sua poesia é crua e cortante quando necessário.
Afinal, quantos de nós vimos pessoas passando por dificuldades nos últimos anos? A injustiça social com certeza se tornou ainda mais evidente dado que muitas famílias nem tinham o que comer ou como se proteger do vírus. O autor fala sobre isso de um ponto de vista sensível em diversos poemas, como "Dor insuportável", "Coragem para dormir" e outros.
Barriga vazia nem dá sonoTodo dia o abandno arrepiaO desdém é a cantiga de ninarNa noite fria que não tem outonoNa fome inimiga que se temE nenhum nome há para gritarSó um desamor para acomodarEssa vida vazia está além da poesiaSó o poder está à vontade no seu tronoEssa é a desigualdade e o homem é o refémE este mundo, será que dono tem?
Além do cunho social, o cuidado ambiental e a exaltação da natureza parece permear toda a obra do autor, além do próprio texto, o livro conta com diversas imagens que detalham a magnitude da fauna e flora nacional. Isso faz com que a leitura seja ainda mais enriquecedora!
A poesia descalça e crua tece canções
Dança e canta trançando valsa com a lua
Sonhando na beira da rua, tirando o lençol
Folha oliva fisgando amor, anzol e esmeralda
Move paixões ou flutua, desenho de sensações
Bom, é impossível não se comover com a leitura desses poemas, seja por conta dos mais reflexivos aos mais amorosos, a métrica de José é precisa em criar versos que sejam fáceis e gostosos de serem lidos e declamados, aplicando a eles uma musicalidade deliciosa!
Fica a minha indicação para quem quer se aventurar nas memórias, vivências e relatos de um eu-lírico potente e muito articulado!