Organizadores: vt Suzumura
Editora: Independente
Páginas: 185
Ano de publicação: 2024
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O imaginário popular cria representações de sonhos e medos que se expressam com vida própria e eloquência. Através de um emaranhado de histórias e personagens, "Cordéis" tece alegorias sobre um Brasil em mutação, tocando em temas sensíveis e complexos, como a onda conservadora que se propagou no Brasil, a intolerância, a desigualdade social, o racismo, o machismo, a transfobia, o genocídio indígena, o preconceito...Combinando elementos de suspense e de realismo fantástico, "Cordéis" não segue uma estrutura funcional e choca suas muitas personagens acorrentadas umas às outras em busca de protagonismo e vida.“Cordéis” é uma reflexão sobre a existência, o sofrimento e a vontade de viver. Conversa com a filosofia (sobretudo Schopenhauer e Nietzsche), com o simbólico e com o imaginário tradicional brasileiro.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Cordéis, mitos vivos, lançado de maneira independente. O livro é de autoria de vt Suzumura e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Histórias macabras em um país assolado por diversos tipos de preconceitos e violências. Personagens que vivem diferentes realidades mas são impostos as consequências da polaridade e intolerância... Tudo isso com um toque de realismo mágico e violento.
Em "Cordéis — Mitos vivos", nós conhecemos os investigadores Ana Pereira e Luizão Calaça, que estão atrás de um assassino em série. O arco de procura dessa pessoa é apenas um fio condutor para conhecermos diversas outras realidades que permeiam esse livro, e é nelas em que o autor irá explorar as milhares de facetas que sua história tem a oferecer.
"Os homens simplesmente não suportam a ideia de que uma mulher pode ser tudo, bonita, inteligente, culta, independente. Livre. De que ela está no comando, no controle. De que a leoa que aguarda, tranquila, a disputa que vai definir o leão vencedor, o macho alfa. De que a leoa não é a recompensa do macho alfa, mas a rainha que deseja o melhor pai para sua descendência. Os homens simplesmente não suportam a ideia de que a mulher é a protagonista, de que ela escolhe o que vai fazer, com quem vai..."
Completamente visceral. Fiquei um pouco chocado com o teor gráfico presente nessas várias histórias. É bom avisar que sim, o livro é indicado para maiores de dezoito anos por conter uma série de assuntos que podem servir de gatilhos. Além de ter um conteúdo de violência explícita, tanto física quanto verbal. A crítica, no entanto, é o elemento que mais se estabelece na escrita de vt Suzumura.
Entendo o porquê do autor utilizar um pseudônimo para a publicação do livro: é sim uma leitura polêmica que coloca em xeque o ódio em suas diversas vertentes. Personagens como Mara, uma mãe que vive na Favela da Floresta, a figura enigmática do Anão, João, Carlos Eduardo e muitos outros personagens vão ganhando cada vez mais destaque na narrativa.
No começo fiquei um tanto confuso com o direcionamento desses personagens, afinal para onde tanta história avulsa assim iria em uma trama com menos de duzentas páginas? Mas conforme eles aparecem novamente em outros trechos do livro eu passei a compreender melhor seu propósito e tudo começou a encaixar.
"Victoria deixou a favela e sua família com apenas as roupas do corpo e muita determinação. Como dizia Simone de Beauvoir, Victoria não nasceu mulher, tornou-se mulher. Victoria transpira uma alegria contagiante e um otimismo que contamina, às vezes."
A série de debates que o autor traz para sua narrativa talvez seja o elemento mais interessante para entendermos a importância de livros como esse na literatura brasileira. Claro, não é uma leitura fácil de ser feita, mas ao mesmo tempo dialoga tanto o que vemos no noticiário e em alguns círculos sociais que é impossível não assimilar com a própria realidade!
Por fim, fica a minha indicação para quem quer um livro intenso, cruel e extremamente necessário para uma reflexão intensa a respeito da sociedade que vemos.