19 de outubro de 2024

RESENHA: A INVISIBILIDADE DO TRADUTOR

 


Organizadores:   Lawrence Venuti
Editora: Unesp
Páginas: 704
Ano de publicação: 2024
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A definição do que seja uma boa tradução chega a ser quase um lugar comum: equivaleria a um texto fluente, transparente, livre de peculiaridades linguísticas ou estilísticas a tal ponto que reflita a personalidade, ou a intenção, ou o sentido-chave da obra correspondente na qual se baseia. Em suma: quando ele chega a fazer com que o leitor se esqueça por alguns momentos de que está lendo uma tradução. É na investigação dessa imagem aparentemente plácida, mas marcada por dificuldades e complexidades de diversas ordens, que Lawrence Venuti se detém neste livro, desenhando um panorama do mundo das traduções, do século XVII ao presente, muito mais rico do que a imagem usual permite supor.

 

Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro A invisibilidade do tradutor: Uma história da tradução, lançado pela editora Unesp. O livro é de autoria de Lawrence Venuti e a resenha foi escrita por Leonardo Santos. 

Lançado pela primeira vez em 1995, A Invisibilidade do Tradutor virou referência nos estudos de tradução, especialmente porque Venuti faz uma crítica muito clara e contundente ao papel que a sociedade e o mercado editorial costumam impor ao tradutor: o de ser invisível. Basicamente, ele defende que o trabalho do tradutor é muitas vezes apagado, como se a tradução devesse ser tão fluida que o leitor nem percebesse que o texto foi adaptado de outro idioma. E é exatamente esse tipo de pensamento que Venuti quer desafiar.

Venuti argumenta que, ao tentar criar traduções que pareçam "transparentes" demais, a gente acaba perdendo muito do valor cultural e histórico do texto original. Ele fala bastante sobre como essa ideia de invisibilidade é uma imposição de um mercado editorial que prefere que o leitor não sinta nenhum "estranhamento" ao ler uma obra traduzida. E isso acaba, muitas vezes, invisibilizando o trabalho artístico do tradutor e também empobrecendo a obra, porque muitas nuances culturais se perdem no processo.


Por estar querendo trabalhar na área, ainda estou lendo e estudando esse livro, mas é óbvio a magnitude e importância para traduroes. Isso porque Venuti não está apenas teorizando sobre tradução; ele coloca na mesa toda a questão de poder e de imperialismo cultural que está por trás do ato de traduzir. Segundo ele, a domesticação favorece as culturas dominantes (especialmente a anglo-americana), que impõem seus valores e modos de pensar sobre as culturas traduzidas. Quando você traduz um autor de uma cultura "periférica" e adapta demais o texto, você pode estar colaborando com a invisibilização dessa cultura no cenário global.

No decorrer do livro, Venuti faz uma análise de vários exemplos de tradução, e um dos pontos mais legais é como ele demonstra, na prática, o impacto das escolhas do tradutor no resultado final da obra. Se você é alguém que nunca parou pra pensar no trabalho por trás da tradução, A Invisibilidade do Tradutor vai te abrir os olhos. Traduzir não é só trocar palavras de uma língua para outra – é um ato político e cultural que envolve escolhas difíceis e que podem ter grandes consequências.

Além disso, Venuti oferece uma crítica muito válida ao próprio mercado editorial, que muitas vezes pressiona os tradutores a seguir certos padrões que acabam desvalorizando seu trabalho e limitando a diversidade cultural nos livros que lemos. Ele defende que o tradutor deve ser mais valorizado e que sua visibilidade no processo de criação literária é fundamental.

O impacto desse livro foi gigantesco, especialmente para os estudos de tradução. Venuti questiona algo que até então era visto como natural no mundo literário: a ideia de que o tradutor deve ser um mediador invisível. Ele nos faz repensar o papel da tradução na criação de literatura e no modo como consumimos livros estrangeiros. Sua crítica ao imperialismo cultural através da tradução é muito relevante, especialmente em um mundo globalizado onde a circulação de ideias e de textos é constante.




 
 

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Leonardo Santos



Olá leitories! Meu nome é Leonardo Santos, tenho 28 anos, sou de São Paulo mas atualmente estou em Guarulhos cursando Letras! Minha paixão pela leitura começou desde muito cedo, e é um prazer compartilhar minhas leituras e experiência com vocês!

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