A ida até a ilha das cobras deixa uma marca em cada um, marca que vai além das deixadas pelas presas das criaturas, mas talvez a pior marca tenha sido a culpa em deixar Paulo na ilha, o garoto é dado como morto. Dezenove anos se passam, Carol trabalha em uma livraria, traumatizada pela experiência da qual mal se lembra, a mulher se assusta ao ver Paulo como autor na orelha de um livro de autoajuda, afinal ele estava vivo! Com essa informação em mente, Carol convoca uma reunião com seus antigos amigos para tentar entender o que ocorreu na ilha no pouco tempo em que lá estiveram.
Vamos lá, pra começar esse é o primeiro livro que eu leio do Felipe Castilho, o autor já foi indicado ao Prêmio Jabuti e tem um outro título lançado pela Intrínseca, intitulado Ordem Vermelha. Por isso não sabia muito bem o que esperar da trama e como seria seu estilo de escrita, e é a partir daí que as surpresas começam, pois já fiquei intrigado desde as primeiras páginas.
Primeiramente somos movidos pela curiosidade em entender a trama, Castilho não nos entrega a história com facilidade não, isso é evidenciado pela linha do tempo bifurcada (rs), a construção dos capítulos vão se dando em diferentes épocas; seja na adolescência do grupo, em sua idade adulta ou até mesmo durante a segunda guerra mundial. Por mais que pareça confuso, não é. É aí que mora a grande sacada do autor em nos confundir até o ponto necessário para então começar a entregar algumas respostas, tal estilo de narrativa me lembrou a do Stephen King em IT!
Dito isso podemos partir para os personagens, é muito bom ver o desenvolvimento de cada um após a experiência na ilha! Os capítulos que se passam em 2019 mostram bem como o trauma afetou cada um em particular, os dando uma complexidade gigante! Entre os quatro, a que mais me impactou foi Mariana, que em sua adolescência seguia o estilo fã de punk/rock e ovelha negra da família passou a ser uma fanática religiosa quando adulta.
Mas nenhum personagem me cativou tanto quando o Homem de Terno Branco, que se ostenta como uma figura medonha e onisciente, os capítulos que contam com sua participação são definitivamente os melhores pois além da figura mexer com a cabeça do grupo de amigos, ele com certeza mexe com a do leitor. Seu papel de antagonista é o maior acerto de Castilho num livro cheio deles, acredito que as referências a Robert W. Chambers (autor de Rei de Amarelo) e H.P Lovecraft tenham sido bem utilizadas.
Falando em referências, Serpentário é cheia delas. Mesmo lendo minuciosamente, creio que perdi várias referências contidas nas páginas, mas além das referências a autores já citados acima, Castilho faz uma analogia interessante em questões sociais e políticas que circulam na nossa realidade. Com uma pitada de humor sarcástico e mortal, é interessante analisar o papel das cobras na trama, sendo um elemento cultuado pela sua sabedoria, podemos analisar o discurso do Homem de Branco em contraponto dos personagens que circulam os protagonistas.
Temas como preconceito, racismo, homofobia, ganância e poder são tratados durante a obra de forma exemplar justamente pela sutileza, sim, o livro fala de todos eles! Mas é importante valorizar o quão o autor consegue fazer isso de forma que faça sentido a história no geral. Depois de dizer tudo isso, faço uma ressalva para a genialidade técnica utilizada pelo autor durante o capítulo 11, para você que estiver lendo essa resenha, prepare-se para este capítulo!
Em resumo, Serpentário faz o papel que um bom livro deve fazer: Cativar desde o principio com uma trama promissora e instigante, tecer a narrativa de uma forma que não subestime o conhecimento do leitor e fazer refletir a respeito da sociedade que vivemos e os problemas que nelas serpenteiam.
Que livro fora de série, que história fantástica! Fiquei bem curioso para conhecer essa narrativa na íntegra, anotei aqui na minha lista. Aliás, estou gostando muito de suas postagens, tanto aqui no blog, quanto no ig. Você está de parabéns!!!
ResponderExcluirAdoro esses suspenses que misturam temas polêmicos, tabus e preconceitos. Aproxima mais da realidade. Me lembra a última série que assisti e - pela sua resenha - parece mesmo a forma que Stephen King escreve. Curti.
ResponderExcluirOi Leo! Eu já tinha visto esse livro no instagram da editora, mas não tinha parado para ler sobre ele. Fiquei bem impressionada com a obra. Adorei a ideia de envolver a Ilha de Cobra, que só de escrever me dá arrepios. E to aqui com trocentas teorias com o nome do cara na capa. MEODEOS hahaha. A editora não tinha me deixado com vontade de ler, mas a sua resenha me deixou louca pela compra! Parabéns pela resenha. Beijos
ResponderExcluirhttps://almde50tons.wordpress.com/
Ainda não conhecia este livro e autor.
ResponderExcluirMas pra quem curte este estilo é uma boa indicação de leitura.
https://blogdajenny2014.blogspot.com/