Organizadores: Thiago Zanon
Editora: Quixote+Do
Páginas: 270
Ano de publicação: 2023
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“A gente vive mais tempo do que precisa. Seria suficiente um amor, uma paixão inigualável e teríamos provado a vida”. Para alguns, pode soar exagerado, outros talvez escutem a melancolia entremeando cada palavra. Mas ninguém teria dúvida de que a frase só poderia ser dita por um romântico, e nada define melhor o protagonista desta história, Alexandre, que aqui relembra a vida marcada por um encontro inesquecível. Estamos em Praga, nos anos 90, com o jovem estudante de medicina chegando a mais uma das muitas cidades que visita durante férias que não têm data para terminar. Uma troca de olhares e a lista de compras acaba esquecida entre as laranjas da banca do supermercado - o desejo urgente conduz os próximos passos do personagem ao que poderia não ter passado de sexo casual, uma aventura de verão que, contra todas as expectativas, se transforma em obsessão, quase um vício que às vezes responde pelo que chamamos de amor. Quanto tempo pode durar uma paixão? Até que ponto a distância perpetua a fantasia e faz da ilusão a base de um vínculo duradouro?
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro O rio entre nós lançado pela editora Quixote+Do. O livro é de autoria de Thiago Zanon e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
"A gente ama algumas vezes, hoje eu sei. Eu não amei só Sebastian, embora sinta que só tenha amado Sebastian. Existe um amor, e depois todos os outros são mais ou menos bege, como se a lente pelo qual os víssemos passasse por algum tipo de mácula que torna todas as emoções menos potentes, entre o amarelo e o marrom. É triste pensar que eu também posso ter sido bege para alguém. Creio que a gente vive mais tempo do que precisa. Seria suficiente um amor, uma paixão inigualável e teríamos provado a vida. A busca incessante que se segue é frustrante. Depois da primeira vez, as músicas não mais nos tocam do mesmo modo, a poesia se esvazia."
Em uma das paradas finais da viagem de Alexandre e seu amigo, Fabrício, pela Europa, a dupla de amigos desbrava a cidade de Praga e, em meio a uma ida ao super mercado, Alexandre acaba conhecendo Sebastian. A atração é imediata, mas após passarem alguns (breves) dias juntos, Alexandre acaba voltando para o São Paulo.
Mesmo em casa e com diversas preocupações na cabeça, como sua residência em medicina para ser o cirurgião cardíaco do qual estudou por anos na faculdade, Alexandre não consegue parar de pensar em como seria sua vida com Sebastian, o ajudante de cozinha que conheceu na capital da República Checa.
Os meses avançam, Alex acaba conhecendo pessoas novas, incluindo Paulo, um advogado em ascensão que acaba se relacionando com Alex. Cinco anos se passam e, em uma viagem a Paris com Paulo e sua mãe, o destino de Alexandre pode mudar mais uma vez.
Uma história potente que traz a força da primeira paixão, a crueldade de suas interrupções e pausas e a inevitabilidade do amadurecimento. "O rio entre nós" nos coloca na vida de desse protagonista enquanto lemos os eventos narrados pelo próprio Alexandre mais velho, relembrando e refletindo a respeito de sua jornada naqueles anos.
A forma como o autor constrói esse personagem é incrível e se tornou um dos meus pontos preferidos desse livro. Por vezes, achei Alexandre infantil e mimado, por outras, não sei o que eu faria em seu lugar. A capacidade de criar um personagem tão humano é extremamente difícil, e por isso dou meu mérito a Thiago. Além disso, outros personagens que complementam a leitura também são desenvolvidos, como o próprio Sebastian, Paulo, e a mãe de Alexandre (que ganha um arco intenso na última parte da narrativa).
Além disso, o livro é dividido em partes, sendo a primeira intitulada "Praga", que é o cenário onde nossos personagens se encontram. O segundo arco (e maior) do livro, "Paris e São Paulo" talvez seja o mais melancólico, pois evoca muito desse sentimentos de interrupção do relacionamento entre Alexandre e Sebastian. Para a última parte, voltamos a "Praga" para um desfecho sincero e que fecha vários ciclos.
A escrita de Thiago é extremamente poética, o que deixa toda essa história ainda mais bela, trágica e comovente. Uma coisa que me deixou muito feliz com essa leitura foram as descrições dos locais, que exibem uma aura que casa muito bem com o sentimento de descoberta e amor de Alexandre. Tudo orna muito bem!
Por fim, eu gostei muito de "O rio entre nós" e mal posso esperar para ler outras coisas que Thiago venha escrever no futuro! Até lá, fica minha indicação pra vocês.
"A liberdade é uma noção avassaladora."