Em "Dona do Mar ou Em Busca de Mim", as irmãs Daniela S. Terehoff Merino e Cláudia A. Terehoff Merino unem suas forças para dar voz a uma história profunda e dolorosamente real. Na história, que foi viabilizada pela Lei Paulo Gustavo e publicada pela Valleti Books, nós conhecemos Luzia, uma mulher negra de 49 anos que até então viveu à sombra de sua própria família.
Em quase meio século de existência, Luzia considera que não conquistou nada: Não teve formação, não tem nada em seu nome e vive em função de auxiliar sua mãe, a matriarca da família, e acompanhar a vida de seus irmãos e sobrinhos.
Em uma ida até o centro da cidade, é na vitrine de uma loja de roupas que Luzia tem uma memória específica de quando era muito criança: O dia em que escreveu um texto a respeito de ser a dona do mar, mar este que nunca viu antes. Esse evento catalisador causa uma enorme mudança na perspectiva de Luzia a respeito de sua própria vida e é aí que ela se vê como uma figura solitária e ansiosa, responsável por cuidar de sua mãe acamada e relegada a um papel quase invisível dentro de sua própria família.
A crise de ansiedade que a atinge em plena rua desencadeia uma jornada de autodescoberta. A partir desse momento, Luzia começa a perceber o peso de suas próprias demandas e limitações, o que a leva a um processo transformador de autoaceitação e coragem. Mas que, como toda mudança, não é nada fácil — muito menos acontece da noite pro dia.
Gente, QUE HISTÓRIA LINDA! Ao mesmo tempo em que é super dolorosa, a sensação que tive ao terminar de ler esse livro foi super libertadora. Acompanhar a jornada de Luzia e toda sua nova percepção a respeito do quanto ela precisou diminuir (e até mesmo apagar) seus sonhos por conta de outros me pegou muito, mas vê-la começar a procurar mudança fez tudo valer a pena.
Aqui temos um livro hibrido, com a história em prosa sendo essencial para o desenvolvimento da narrativa e dos personagens, mas em igual escala e peso nós temos as ilustrações maravilhosas, vívidas e sensíveis de Cláudia! Com certeza elas adicionam uma profundidade lírica a história escrita por Dani, o que torna a experiência ainda melhor para nós, leitores! Existem várias artes em momentos super importantes da obra, e acredito que uma das últimas (da qual não falarei qual que é) é uma das mais bonitas!
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Além de todo o trabalho literário, as autoras realizaram uma série de entrevistas com mulheres negras e pessoas ansiosas para a escrita desse livro, podemos ver os rostinhos dessas mulheres tão corajosas no final do livro, e acho que esse foi um grande acerto das autoras, pois o livro se torna muito mais verossímil graças aos relatos e vivências compartilhados. A dedicação de Daniela em entender e transmitir essas vivências, apesar de não ter passado pelas mesmas experiências, mostra o compromisso com uma abordagem ética e empática. Esse esforço de pesquisa, permeado pela influência de filósofas e pensadoras negras como Djamila Ribeiro, ecoa em cada página.
Enfim, acredito que esse seja um livro que não busca fornecer respostas fáceis, mas que incita as pessoas a revisitarem seus sonhos e desejos, além de se aventurarem em suas próprias jornadas em busca de algo novo! Eu amei muito!