A história de Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz, uma mulher negra africana do século XVIII, é um relato fascinante que revela a vida extraordinária e complexa de uma figura que desafiou as limitações de sua época. Seu percurso começa quando desembarcou no Rio de Janeiro aos seis anos de idade, vinda da Costa de Mina, nação Courana, trazida como escrava. Vendida para diferentes donos e passando por diversas regiões, Rosa enfrentou separações, abusos e desafios inimagináveis.
Ao longo de sua vida, Rosa experimentou uma série de transformações, indo de escrava a mulher livre, da prostituição à santidade. Sua trajetória é marcada por uma intensa busca espiritual e visões místicas que a conduziram a um papel de liderança religiosa, mesmo em um contexto de opressão racial e social. Seus exorcismos e supostas possessões a colocaram no centro das atenções, tanto para os fiéis que a adoravam quanto para as autoridades eclesiásticas que a investigavam.
Rosa Maria Egipcíaca também se tornou uma escritora notável, sendo a primeira afro-brasileira a escrever um livro, embora apenas algumas páginas tenham sobrevivido. Seus escritos revelam sua conexão profunda com a religião católica, assim como influências do sincretismo religioso afro-católico-brasileiro. Sua fundação do Recolhimento de Nossa Senhora do Parto, uma instituição para mulheres que buscavam deixar para trás uma vida mundana, destacou sua influência e seu desejo de ajudar outras mulheres em circunstâncias semelhantes.
A pesquisa de Luiz Mott em "Rosa Egipcíaca" destaca a relação de Rosa com o padre Francisco Gonçalves Lopes, conhecido como Xota-Diabos, que a apoiou em suas jornadas espirituais e visões. No entanto, essa associação também atraiu controvérsias e suspeitas de heterodoxia por parte do clero.
Embora tenha sido adorada por muitos, Rosa também enfrentou críticas e perseguições. Suas previsões não cumpridas e sua autoproclamação como uma figura divina levaram à sua derrocada. Suas ousadas profecias, como a promessa de um dilúvio que destruiria o Rio de Janeiro, foram metas que não se concretizaram.
A vida de Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz é um retrato multifacetado de uma mulher que desafiou as convenções e as limitações impostas pela sociedade de sua época. Seu papel como líder espiritual, visionária, escritora e fundadora de uma instituição religiosa destaca sua influência e seu impacto duradouro, apesar das complexidades e contradições que cercaram sua figura.
Sua história também é um testemunho da rica tapeçaria do sincretismo religioso, onde tradições africanas, católicas e brasileiras se entrelaçaram para moldar sua jornada única e notável.