Dysphoria mundi foi escrito durante a pandemia de COVID-19 e funciona como um diário do autor, que estava doente e isolado, refletindo sobre as mudanças globais que estamos vivenciando.
Neste livro, Preciado usa uma linguagem que mistura ensaio, poesia e elementos autobiográficos, criando um tipo de diário filosófico sobre a transformação por qual passa. Ele explora como as coisas estão mudando nas áreas sociais, políticas, sexuais e ecológicas.
Uma das ideias centrais do livro é repensar a 'disforia de gênero' como algo mais amplo do que a visão de um transtorno mental. Preciado questiona se essa disforia não seria, na verdade, uma inadequação política e estética em relação às normas sobre diferença sexual e de gênero propostas pela sociedade.
Além disso, o autor nos instiga a perceber que o antigo modo de vida está se desfazendo e nos incentiva a criar uma nova forma de entender o mundo — nos incentivando a participar desse processo de mudança e engajar ativamente na construção de um futuro diferente.
Uma das coisas que eu gostei desse livro é a forma como ele é escrito: não é difícil. Livro assim costumam trazer uma carga teórica muito forte e acabam se perdendo no meio de tantas referências e modos de percepção. Por sorte, Preciado não faz isso, pelo contrário, ele sintetiza tudo isso de uma forma que deixa sua visão ainda mais forte e embasada.
O subtítulo "O som do mundo desmoronando" faz muito sentido quando nos aprofundamos na leitura desse livro. Nossa visão a respeito da sexualidade mudou muito nas últimas décadas, conseguimos avançar em pautas importantes e ainda lutamos para que outras sejam debatidas e compreendidas nos âmbitos políticos, acadêmicos e sociais. Portanto, esse livro evoca uma série de discussões extremamente úteis e relevantes a respeito desses temas.
O estudo de Preciado se mostra extremamte relevante por sua originalidade e provocação intelectual. A habilidade de em misturar um teor acadêmico com sensibilidade, inteligência, ironia e beleza na narrativa é impressionante. "Dysphoria mundi" é visto como uma contribuição significativa para os estudos de gênero, teoria crítica e filosofia contemporânea, solidificando a posição do autor como uma figura influente nas discussões atuais.