RESENHA: SOBRE LITERATURA E HISTÓRIA

 

Organizadores: Júlio Pimentel Pinto

Editora: Companhia das Letras.

Páginas: 272

Ano de publicação: 2024

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Como um historiador lê a literatura? Como a ficção se relaciona com a história? Júlio Pimentel Pinto oferece neste livro respostas sensíveis e inteligentes a essas perguntas. Mediante uma escrita prazerosa, ele nos convida a indagar sobre os caminhos possíveis de serem traçados entre os protocolos discursivos da história e as formas especulativas da ficção, sinalizando não apenas a permeabilidade de seus limites, mas, sobretudo, a distinção que as legitima enquanto práticas e saberes.A partir da leitura de autores como Julio Cortázar, Jorge Luis Borges, Ricardo Piglia, Octavio Paz, Juan Carlos Onetti, Milton Hatoum, Edgar Allan Poe, José Martí, Sousândrade, Raymond Chandler, entre outros, Júlio Pimentel Pinto coloca em evidência indagações compartilhadas entre o fazer do historiador e o do escritor ― sem que a ficção surja como ilustração de um argumento histórico e sem que a história se preste a compor mero pano de fundo para a escrita da ficção.Um livro para todos aqueles que se interessam por literatura e por história, em diálogo, combinando olhares, contaminando-se mutuamente.“Fruto de mais de trinta anos de militância crítica e professoral, o livro atinge um amadurecimento nas leituras e análises por aproximação e contraste dos maiores clássicos da América Latina.” ― Jorge Schwartz“Com lucidez e elegância nos debates teóricos, sem perder de vista a complexidade dos temas, um livro delicado no seu gesto de indagação e, sobretudo, atento ao prazer do leitor.” ― Ana Cecilia Olmos

 

Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Sobre literatura e história: Como a ficção constrói a experiência, lançado pela editora Companhia das Letras. O livro é de autoria de Júlio Pimentel Pinto e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.  

Como podemos ler a história através da ficção? E mais, como a ficção não só reflete, mas também constrói experiências históricas? Pimentel Pinto nos conduz por uma jornada de diálogos entre grandes nomes da literatura latino-americana e do século XX, como Julio Cortázar, Jorge Luis Borges, Octavio Paz e Ricardo Piglia, entre outros. Cada um deles, à sua maneira, embaralha as fronteiras entre o real e o imaginário, e é nesse cruzamento que começamos a ler "Sobre literatura e história"

Uma das grandes qualidades do livro é a forma como o autor explora essas fronteiras sem nunca simplificar as coisas. Ele não está interessado em transformar a ficção em uma simples ilustração de fatos históricos, nem em tratar a história como mero pano de fundo para romances. Pelo contrário, ele revela como essas duas formas de narrativa se contaminam e se enriquecem mutuamente, criando novas maneiras de olhar para o passado e o presente. Essa abordagem é muito bem trabalhada com uma escrita fluida e acessível, mas sem perder a profundidade.

Ele mostra, por exemplo, como a obra de Borges ou de Cortázar não apenas dialoga com eventos históricos, mas também cria suas próprias realidades. Isso é fascinante porque nos faz perceber que, ao mesmo tempo que lemos história nas entrelinhas de uma ficção, estamos também vendo o mundo pelos olhos de quem escreve!

Outro ponto alto do livro é o cuidado do autor em evidenciar que, embora literatura e história caminhem lado a lado em muitos aspectos, elas mantêm sua legitimidade e distinção. Ou seja, uma não deve ser reduzida à outra. A ficção não pode ser reduzida a um argumento histórico, e a história não deve ser diluída nas especulações literárias. Essa reflexão, colocada de forma tão clara e instigante, me fez pensar bastante em como eu mesmo, como resenhista e leitor, enxergo o valor desses dois campos.

A leitura do livro é fluida, mas exige atenção. Pimentel Pinto faz muitas referências a obras literárias e históricas, então se você já leu algum dos autores que ele cita, a experiência vai ser ainda mais rica. Mas mesmo para quem não está familiarizado com todos esses nomes, o livro tem uma didática que conduz bem o leitor pelos caminhos que ele pretende percorrer.