"E, por um instante que fosse, eu só queria fugir
Esvair-me da vida
Esvair-me de minha essência
Esvair-me de mim...
Deixar a existência escorrer
Por entre meus dedos
Antes da última amarga e pesada lágrima escorrer
De meus tristes olhos sem cor."
Em uma obra lírica e de incrível poder poético, "Destroços: Eu e o mundo", funciona como se a autora desse belo livro, Amanda Falcão, abrisse uma pequena janela para que nós, leitores, olhemos para o seu vasto mundo imaginário através de suas vivências, experiências, desejos e temores.
Destroços traz uma série de capítulos que mesclam prosa à poesia, cada um deles guarda em si um fragmento que nos leva a refletir sobre uma série de coisas: sobre a alegria de termos vindo de algum lugar, sobre o que faz de nós seres humanos tão complexos, sobre a nossa cultura, nossa dor, solidão, perda... Tudo isso vem em ondas.
"Sou filha de Poseidon, e minha casa sempre foi o mar. E, com cada parte do meu ser, eu amo o meu lar. Porque, perto do oceano, eu sou apenas uma gota de água. Mas, acima de tudo, sou uma gota de água que faz parte do mar. E cada fração de meu ser, como em gotas, desmancha-se e se recompõe na imensidão azul infinita. Pois cada gota de meu ser ama o mar."
Logo no início do livro já temos a autora nos ambientando em suas primeiras experiências em Goiás, terra onde nasceu, achei a escolha de começar assim bem inteligente, pois passamos a conhecer mais um pouco da figura que está tecendo essas reflexões. A exaltação da terra em seus pequenos e grandes detalhes é linda e merece reconhecimento aqui nessa resenha!
"Eu sou da terra de Cora Coralina, cujas doces palavras inspiram e fazem sonhar. Seu legado pulsa em nossos corações, com a beleza de um lirismo simples e singularmente poético, que traduz e ilustra com perfeição a alma do nosso povo.
Eu sou filha de Goiás, eu nasci no Centro do Brasil. Uma terrinha encantada, tão rica e bela, que derrama as bênçãos, intrínsecas em sua peculiar beleza."
Além disso, Amanda nos coloca em lugares sombrios também, gostei muito dos textos e poemas que retratam a solidão, até porque todos nós acabamos de passar por um período sombrio em nossas vidas por conta do COVID19, e acredito que todos nós, de uma forma ou outra, conhecemos a solidão e sua crueldade.
Logo, é incrível ver como a autora pegou tudo isso e transformou em algo belo (e mesmo assim, doloroso). Por fim, acredito que esse livro seja ideal para desfrutar aos poucos, em doses que nos leve a pensar um pouco sobre nosso papel em um mundo tão confuso e complexo quanto o nosso!
O livro está em uma formatação muito bem trabalhada em um lindo visual feito pela editora Viseu! Indico fortemente para quem quer se aventurar um pouco na escrita viciante de Amanda e na própria consciência.