27 de fevereiro de 2019

RESENHA: VOX


VOXVox
Autora:  Christina Dalcher

Editora:
 Arqueiro
Páginas
: 320
Resenha escrita por:
 Leonardo Santos

Uma distopia atual, próxima dos dias de hoje, sobre empoderamento e luta feminina. “Uma recriação apavorante de O conto da Aia no presente e um alerta oportuno sobre o poder e a importância da linguagem.” O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade. Esse é só o começo... Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir. ...mas não é o fim. Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.

Com o passar do tempo, podemos acompanhar diversas ondas literárias ganhando forma no mercado nacional, mas a distopia sempre foi presente no cotidiano das pessoas. Não há muito critério para o gênero distópico, apenas a distinção de que se passe em um futuro pessimista, onde a opressão é vigente. Por isso somos levados a derivações de distopia, seja das mais "teens", como Jogos Vorazes, ou mais adultos como O Conto da Aia. Neste cenário, surge Vox, que mescla alguns gêneros para criar a obra tratada. 



Na história, as mulheres vivem com sua maior força sendo controlada e limitada. Essa força se dá pela voz. Aqui, todas as mulheres (sejam crianças ou adultos), vivem com dispositivos em seus braços e gargantas, sua função é bem simples, contar todas as palavras ditas pela mulheres que o carrega, caso o contador chegue a cem palavras em um único dia, qualquer palavra a mais dita causa uma disparada de eletricidade, dando um terrível choque.

"Toda era em que vivem os seres humanos é uma era de ansiedade" respondeu o outro [...] "Se me perguntarem a era em que vivemos, é a da violência. Me parece que todo mundo tem violência na cabeça hoje em dia. E acho que vamos simplesmente continuar por esse caminho até não ter nada mais que estragar. Se você parar para pensar, é assustador."
"Bem talvez a gente esteja vivendo a era da ansiedade e da violência"
Em um estado totalitário influenciado por autoridades religiosas fanáticas, a sociedade se transforma no mundo de Vox, tudo começa de forma sutil, uma disciplina escolar que é alterada em ensino religioso, um corte em direitos humanitários e por aí vai... Até chegar no total controle do direito de ser um ser politizado ou racional; a habilidade de nos comunicarmos, pois tudo vai muito além de cota de palavras diárias, qualquer tentativa de contato não-verbal é igualmente punido, zelando a ideia de que as mulheres não devem se expressar de forma alguma, apenas servir as tarefas do lar e da família.

Nesse mundo somos jogados na vida da Jean, uma mãe que se vê aprisionada em sua própria vida. Uma cientista que agora é limitada a tarefas básicas é escoltada pelo governo para um serviço, mesmo sendo contra tudo que aquele sistema totalitário representa, Jean poderá trabalhar e viver sem o dispositivo de controle, e com isso passa a redescobrir o poder que suas palavras resguardam.

Quando eu comprei o livro fiquei encantado por seu conteúdo, justamente por trazer um tema tão importante a ser discutido em épocas truculentas de ideias de totalitarismo. Sucessos como O Conto da Aia abriram um espaço para obras deste tipo surgirem com mais força no mercado. E acredite, gostei muito da forma como Vox é conduzida durante boa parte do livro, mas mesmo assim encontrei alguns problemas durante minha leitura.

A falta de aprofundamento em diversos personagens me incomodou, temos diversas pessoas rodeando Jean, porém suas ações são movidas a sentimentos rasos e pouco explorados, o que diminui o impacto das ações do livro. O desenvolvimento da narrativa é outro (se não o maior) problema do livro, tudo começa muito bem, de forma bem direta e bem construída, entretanto, conforme a história avança, ela fica confusa - parece mudar um pouco o foco -, e não agrada.

Tais problemas ocasionam em um final bem decepcionante a corrido, isso porque o plot final acontece faltando pouquíssimas páginas para acabar o livro, dando um tempo minúsculo para ele evoluir da forma precisa, assim, somos banhados de informações e passagens de tempo nas últimas dez páginas.

Mesmo funcionando com um toque de thriller até excessivo, com alguns diálogos fáceis demais na tentativa de causar repulsa e certos personagens e afeto a outros, alguns dos métodos de Christina Dalcher são ótimos para refletirmos sobre a política que nos ronda, e isso para mim é um dos maiores poderes que a literatura possui.

"Aprendi outras coisas nesse último ano. Aprendi como é difícil escrever uma carta para meu congressista sem ter uma caneta, ou postar uma carta sem ter selo. Aprendi como é fácil para o vendedor da papelaria dizer "Sinto muito, senhora, não posso vender isso pra você", ou para o trabalhador dos correios balançar a cabela quando uma pessoa sem o cromossomo Y pede selos.
Aprendi com uma rapidez uma conta de celular pode ser cancelada e como os rapazes alistados podem ser eficientes em instalar câmeras. Aprendi que, assim que um plano é estabelecido, tudo pode acontecer da noite pro dia."

7 comentários:

  1. Parece ser um livro muito bom. Nunca ouvir falar dele, adorei a sinopse! Bem interessante! ❤

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  2. oi!
    è um livro otimo, com um tema bem atual...É extremamente necessário nos tempos sombrios que estamos vivendo.

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  3. Não conhecia! Tema importante e que precisa ser encarado com seriedade e cautela!

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  4. Já tinha visto uma resenha antes sobre o livro, certamente ele parece bem interessante, essas distopias são sempre uma crítica a nossa sociedade, sempre e válido conhecer

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  5. Fiquei muito interessada na história, essas criticas são super importantes para reflexão.

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  6. Interessante, vou dar uma pesquisada sobre o assunto.

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  7. Não havia ouvido falar no livro.
    Gosto de obras literárias com essa perspectiva.
    Claro que amei a sugestão!
    Também achei bastante interessante o quote que você disponibilizou na postagem.
    Realmente parece ser um livro muito reflexivo e crítico!
    Valeu pela dica!
    Sucesso!

    Eliziane Dias

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Leonardo Santos



Olá leitories! Meu nome é Leonardo Santos, tenho 28 anos, sou de São Paulo mas atualmente estou em Guarulhos cursando Letras! Minha paixão pela leitura começou desde muito cedo, e é um prazer compartilhar minhas leituras e experiência com vocês!

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