5 de julho de 2025

RESENHA: O LABIRINTO DAS MOIRAS

 


Organizadores: Tânia Calciolari 
Editora: Independente
Páginas: 256
Ano de publicação: 2025
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Pode-se fugir do Destino? Marina passou a vida inteira debatendo-se com essa questão em meio a ecos de seus vazios de alma até aquele dia frio de 1984, quando se deparou com um enigmático homem cego dizendo ser o próprio Destino, num casarão abandonado em São Paulo. Com a promessa de que finalmente obteria as respostas sobre os desaparecimentos do pai e do namorado Daniel no vácuo da ditadura militar, Marina inicia uma relutante jornada de volta a Brasília, tendo em mãos uma pequena caixa com as filigranas PZ entalhadas, uma chave e um pedido do Destino. Uma mulher idosa com uma chave na mão luta para resgatar as lembranças que lhes chegam em lapsos tão impessoais, que mais parecem fazer parte da terra sobre a qual repousa que dela mesma. As memórias destas mulheres de gerações tão distintas parecem fazer convergir presente e passado, de histórias de um naufrágio de imigrantes italianos a caminho do Brasil aos anos de perdas e silêncios impostos da ditadura. Acontecimentos históricos acabam por se revelar mero pano de fundo para a história de amor que entrelaça as vidas de Pietro Zanetti, Anna e Cecília num labirinto oculto nos profundos olhos cegos do Destino, revelando de fato sua eterna busca de redenção, por ter ousado por uma única vez, em sua eterna e tediosa existência, apaixonar-se por uma mulher.

 

Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro O labirinto das moiras, lançado de forma independente. O livro é de autoria de Tânia Calciolari e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.  


Uma mulher encontra o Destino. Literalmente.

É em um casarão abandonado em São Paulo, numa manhã fria de 1984, que Marina escuta de um homem cego que ele é o próprio Destino. A cena poderia soar absurda, mas no universo criado por Tânia Calciolari isso não só faz sentido, como serve de ponto de partida para uma narrativa que se desenrola entre memórias, silêncios e perdas, procura por entedimento... e que me pegou de um jeito que eu não esperava.

O Labirinto das Moiras não é um livro direto. Ele é construído por camadas, como um tear antigo entrelaçando fios que vêm de tempos diferentes. Acompanhamos Marina, que vive atormentada pelo desaparecimento do pai e do namorado durante os anos da ditadura. A partir desse encontro com o Destino, ela recebe uma chave, uma caixa com as iniciais “PZ” e uma missão meio críptica em voltar a Brasília e, quem sabe, encontrar as respostas que a perseguem há anos.


Mas a história não se limita a ela. Tem também uma senhora que tenta juntar os cacos da própria memória, uma mulher que parece ter se esquecido de si. E então Pietro aparece, um imigrante italiano cuja trajetória atravessa um naufrágio e o tempo, conectando vidas de forma sutil, mas essencial. Ao lado dele, outras duas mulheres: Anna e Cecília. Personagens que pareciam distantes da trama de Marina, mas que aos poucos se revelam partes do mesmo novelo.

Tânia tem uma escrita delicada e muito poética, inclusive esse foi um dos elementos que eu mais gostei durante minha leitura. 

“O medo faz isso com as pessoas, moço; não dá pra julgá-las. Você nem percebe quando o medo chega, pequeno e fraco, que nem uma semente. Nem precisa se dar ao trabalho de plantá-lo; o medo cresce em qualquer lugar, até no canto escuro de um coração de gente. E então, ele cresce até atingir o tamanho de um homem e depois se torna maior que ele, fazendo-lhe sombra como uma árvore e o homem passa a acreditar que está protegido por essa sombra; é mais cômodo acreditar nisso, todo mundo quer proteção.”

Gostei bastante do modo como o realismo mágico entra na trama. A presença do Destino como personagem é, pra mim, um dos grandes acertos do livro. Ele tem sentimentos, arrependimentos, desejos. Um deles, inclusive, é o que desencadeia todas as histórias aqui. Porque, por uma única vez, o Destino se apaixonou. E esse deslize afetou uma série de vidas conectadas por laços invisíveis.

A ambientação histórica também merece destaque. A ditadura militar, a imigração italiana, os traumas deixados por esses contextos eles reverberam nos personagens, nos afetos contidos, nas escolhas que foram negadas.

Esse é um daqueles livros que não tem pressa de revelar tudo. E acho que é justamente isso que faz com que ele funcione tão bem: a descoberta acontece aos poucos! O final me deixou com aquela sensação agridoce, meio nostálgica, e fez total sentido com toda a história. 


Se você curte histórias que misturam passado e presente, com personagens que parecem carregar o peso de muitas vidas nos ombros, O Labirinto das Moiras pode ser uma boa escolha.

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Leonardo Santos



Olá leitories! Meu nome é Leonardo Santos, tenho 28 anos, sou de São Paulo mas atualmente estou em Guarulhos cursando Letras! Minha paixão pela leitura começou desde muito cedo, e é um prazer compartilhar minhas leituras e experiência com vocês!

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