A pergunta é: quem não ama bancar o detetive? Direto nos deparamos com algo que provoque aquele sentimento de curiosidade, de "como será que isso aconteceu? De que forma?" Vestimos a boina e pegamos nosso cachimbo figurativo para solucionar esses mistérios que o cotidiano traz e pronto, somos os novos Sherlocks.
Holmes com certeza é um dos detetives mais famosos da literatura, mas ele não é o primeiro. Antes dele tivemos Dupin, um detetive com enorme poder de dedução e habilidades retóricas de tirar o chapéu (no caso a boina). Escrito por Edgar Allan Poe, a tríade de contos com o detetive Dupin exploram casos que, até então, parecem ser impossíveis de serem solucionados.
Bem... até Dupin aparecer, no caso. A edição da Antofágica reúne esses três contos policiais em uma compilação única, aquela que leva o título da obra e o primeiro conto ficcional investigativo-policial que se tem registro na literatura! Bom, pelo menos dessa forma como conhecemos! Um assassinato hediondo tomou palco na Rua Morgue, em Paris, e Dupin é chamado pelo Inspetor Chefe do departamento de polícia para oferecer seus serviços de dedução.
A cena do crime é macabra, os corpos foram dilacerados e o ambiente parece ter sido revirado! Quem (ou o quê) teria feito uma atrocidade daquelas? É o que vamos descobrir conforme o detetive e seu amigo dialogam a respeito do caso.
Além dele, temos outros dois contos: O mistério de Marie Rogêt, que nada mais é do que um conto baseado em um caso real que chocou a população da época; e A Carta Roubada, uma narrativa que envolve um jogo político entre a aristocracia da época e o poder ministerial.
Confesso que o conto da Carta é o meu preferido, é nele que Dupin utiliza de todos os seus talentos para chegar a uma conclusão a respeito de quem roubou a tal carta.
Dizer muito sobre o enredo é estragar a história para os leitores que estão se aventurando nesse lado do Poe (que poucos conhecem), por isso minha indicação é: vá em frente e leia. Os contos são relativamente curtos e, por isso, não possuem muitos personagens. A leitura é extremamente dinâmica e por mais que Dupin ame um monólogo, sua fala é tão fascinante e seu raciocínio é tão atrativo que fica quase impossível não querer continuar a entender sua formidável mente.

Poe dá margem ao leitor de trabalhar como investigador, preenchendo lacunas que o texto (propositalmente) vai deixando. Ler Dupin é uma experiência incrível que ganha mais dimensão com a edição da Antodágica, isso porque além do texto ser repleto de ilustrações criadas por Fernanda Azou, o livro ainda traz "apresentação de Adriana Cecchi, criadora da plataforma multimídia de conteúdo Redatora de M*%$#. Nos posfácios, Daise Lilian, professora de literaturas de língua inglesa (UFCG), contextualiza a obra de Edgar Allan Poe, e Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (USP), analisa a influência da obra de Poe em nosso imaginário sobre o crime, a lei e a ordem. Alberto Mussa, premiado autor policial brasileiro, assina um ensaio sobre a influência intelectual e afetiva de Edgar Allan Poe em sua trajetória"