7 de julho de 2025
ENTREVISTA COM LUCAS PERGON
Olá pessoal do Porão Literário! Hoje vou compartilhar com vocês uma entrevista feita com Lucas Pergon, o autor de O Burocrata.
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Leonardo Santos: Lucas, pra começar: O Burocrata mergulha profundamente na experiência de um homem idealista frente ao peso das estruturas institucionais. De onde veio o impulso inicial pra escrever essa história? Houve alguma experiência pessoal ou observação específica que te levou a criar o Artur?
Lucas Pergon: O impulso veio de confluência de fatores, como auditor de carreira, havia uma necessidade de organizar memórias que vinham se acumulando após duas décadas no serviço público, mas a ideia de criar uma obra literária, no entanto, cristalizou-se após a leitura de "Mudança", do prêmio Nobel Mo Yan. A forma como ele ficcionaliza momentos formativos de sua vida me inspirou a fazer algo semelhante, a explorar esse universo que conheço tão bem por uma nova ótica. Artur, o protagonista, não é um reflexo direto de uma única pessoa, mas sim um amálgama de ideais e frustrações que observei em mim e em muitos colegas ao longo dos anos.
Leonardo Santos: Uma coisa que me chamou muita atenção na tua escrita é o lirismo seco, quase clínico, que permeia o livro. Como você chegou nesse tom? Foi algo que surgiu naturalmente ou foi moldado durante o processo de escrita?
Lucas Pergon: Fico feliz que tenha notado essa característica. O tom foi uma escolha deliberada, moldada para refletir a própria natureza da burocracia. A escrita de autores como Machado de Assis — com sua ironia elegante — e Kafka — com seu senso de absurdo — foram faróis nesse percurso.
Leonardo Santos: Me chamou também a forma como você humaniza o ambiente da repartição pública, fugindo de caricaturas ou simplificações. Em tempos em que o serviço público costuma ser retratado de forma polarizada, qual foi sua intenção ao trazer essa camada mais humana, mais emocional para essas estruturas?
Lucas Pergon: A intenção foi exatamente essa: fugir do clichê e da caricatura. O serviço público é frequentemente pintado com tintas muito grossas, ou como um antro de ineficiência ou como um paraíso de estabilidade. A realidade, como sempre, é muito mais complexa e humana. Também tive uma preocupação especial em construir personagens femininas que fossem distintas dos estereótipos, mostrando a força e as nuances das mulheres nesse ambiente.
Leonardo Santos: Um dos personagens que mais me instigaram foi o Virgílio — ou só “V”. Como foi o processo de construir esses coadjuvantes? Você se baseou em figuras reais ou eles representam arquétipos pensados?
Lucas Pergon: Muitos personagens no livro foram, de fato, baseados em pessoas reais, em observações que coletei ao longo da minha carreira. Os coadjuvantes são essenciais para construir o universo de Artur e mostrar as diferentes facetas da burocracia. No caso específico de "V" e também de Ian, as pessoas que me inspiraram são próximas, e não raro, nos encontramos inclusive. Eles não são cópias, claro, mas a essência de suas personalidades, seus talentos e seus conflitos serviram como uma base muito rica para a criação desses personagens tão importantes na trama.
Leonardo Santos: Teve alguma cena que foi particularmente difícil de escrever? Algum momento que te atravessou de forma pessoal ao ponto de te fazer repensar tua própria relação com o trabalho?
Lucas Pergon: Sim. Várias cenas tiveram um peso emocional grande, mas a jornada de V, especialmente seu declínio e a forma como o sistema o consome, foi particularmente difícil. Escrever sobre a perda de um ideal, sobre como um ambiente pode minar a saúde e o espírito de alguém, me forçou a revisitar momentos difíceis da minha própria trajetória e da de colegas queridos. Foi um processo que me fez refletir sobre os custos invisíveis do trabalho, sobre a resiliência e, principalmente, sobre a importância da compaixão e da humanidade em ambientes tão rígidos.
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